Em sua jornada como investidor, certamente você já ouviu alguém falando sobre a importância de descobrir seu perfil de investidor. Seja você um iniciante no mercado financeiro, ou um investidor com alguma experiência, entender se é conservador, moderado ou arrojado na forma de lidar com suas finanças é algo que não deve ser negligenciado.
Essa adequação de perfil é importante para alinhar as recomendações e estratégias de acordo com o seu momento de vida, recursos financeiros, personalidade e metas.
Neste artigo, pretendo te ajudar a compreender melhor o racional dessa classificação de perfil e te oferecer uma forma inteligente de descobrir qual é o seu.
O que é o perfil de investidor?
O perfil de investidor nada mais é do que um estudo de adequação. Isso significa entender objetivos, personalidade e situação financeira, de forma a compatibilizar tudo isso da melhor forma possível em seu plano de investimentos.
Também conhecido no mercado como suitability, esse estudo de adequação é realizado através do preenchimento de um questionário fornecido pela instituição financeira onde você tenha conta.
É uma ferramenta muito importante para você se conhecer melhor, e para que a corretora ou banco que irá assessorá-lo possa recomendar estratégias de investimentos em sintonia com suas necessidades e expectativas. Além disso, a aplicação deste formulário de perguntas é uma requisição da Comissão de Valores Mobiliários, de acordo com a Instrução CVM 539. Por isso, ao abrir uma conta de investimentos, você será requisitado a preenchê-lo.
O perfil de investidor identifica dados como:
- faixa etária;
- renda e patrimônio;
- tolerância ao risco;
- metas e prazos de investimento;
- e seu conhecimento sobre mercado.
De posse dessas informações, a corretora consegue classificar seu perfil dentro de categorias: conservador, moderado ou agressivo.
O que é tolerância ao risco?
No perfil de investidor, tolerância ao risco é a forma como você lida emocionalmente com o dinheiro. Em outras palavras, qual a sua capacidade de suportar crises de mercado e eventuais variações no seu patrimônio.
É bastante desafiador lidar com um fator subjetivo como este, que pode ser influenciado por inúmeras variáveis a cada momento da vida. Contudo, traçar o perfil de investidor auxilia na identificação dos principais traços de personalidade, servindo, portanto, como um eficiente balizador para a definição da estratégia de alocação dos investimentos.
Quais os tipos de perfil de investidor?
Entender qual o seu perfil de investidor é algo complexo e que envolve uma combinação delicada entre aspectos socioeconômicos e características de personalidade.
Decisões econômicas sempre estão permeadas por aspectos emocionais e vieses comportamentais que podem levar a escolhas nem sempre ideais. Contudo, seria uma tarefa quase impossível fazer uma análise psicológica aprofundada de cada investidor para entender todas as nuances de personalidade e histórico pessoal, para poder auxiliá-lo com suas decisões de investimento.
Ainda assim, visando prover proteção aos investidores dentro do mercado financeiro, desde 2013 a CVM tornou obrigatório o uso de procedimentos que combinem a análise de objetivos, situação financeira, conhecimento de mercado e apetite ao risco, e criou uma classificação básica, de forma a enquadrar os investidores dentro de categorias.
Por sermos seres complexos, não seria certo afirmar que alguém se enquadra 100% em uma única categoria e, nem tampouco, que permanece com um único perfil ao longo da vida. Entretanto, a metodologia desenvolvida permite identificar, mediante a combinação de parâmetros, qual a característica predominante, possibilitando assim o uso da classificação do perfil como: conservador, moderado ou arrojado/agressivo.
Essa classificação leva em conta o tripé presente em quaisquer investimentos: rentabilidade, liquidez e risco. Não existe no mercado nenhum tipo de investimento que ofereça simultaneamente as três coisas. Ou seja, se um ativo oferece alta rentabilidade e baixo risco, certamente não oferece liquidez. Por outro lado, se o investimento tem liquidez e baixo risco, não terá alta rentabilidade. E assim, sucessivamente.
Dentro dessas combinações do tripé financeiro dos investimentos, cada investidor irá sentir-se mais confortável e atendido em suas metas, com determinadas combinações, enquadrando-se portanto, em um dos três perfis.
1. Perfil de investidor conservador
Pessoas com perfil de investidor conservador, privilegiam a segurança em detrimento de outros aspectos, como rentabilidade mais alta, por exemplo.
Por ser uma pessoa que não gosta de correr riscos com o patrimônio, o investidor conservador prefere ganhar um pouco menos, mas com a certeza de que não estará exposto a grandes oscilações do mercado que possam impactar seu patrimônio no curto e médio prazo.
Aqui também podemos enquadrar pessoas com pouco ou nenhum conhecimento acerca de investimentos, além daqueles que desejam deixar seu dinheiro investido por pouco tempo. Isso porque o curto prazo não permite fazer aplicações mais arriscadas, como em ações, por exemplo, já que a volatilidade é bastante alta.
2. Perfil de investidor moderado
Considerado um perfil intermediário, o investidor moderado, tem alguma predisposição ao risco, visando rentabilidades melhores e provavelmente já fez algum tipo de investimento.
Normalmente, são pessoas que investem para médio e longo prazo, logo, estão dispostas a arriscar um percentual – mesmo que pequeno – de sua carteira, em ativos mais voláteis, mas que representem maior probabilidade de ganhos mais expressivos.
Ainda assim, o investidor moderado irá manter boa parte de seu patrimônio em ativos de baixo risco e menor rentabilidade, como forma de equilibrar seu apetite ao risco e sua necessidade de segurança.
3. Perfil de investidor arrojado ou agressivo
O investidor que tem perfil arrojado é aquele cuja meta principal é rentabilidade. Sendo assim, o investidor está disposto a destinar uma parte maior de sua carteira para investimentos voláteis e com maiores riscos de mercado.
Para este perfil, a multiplicação do patrimônio tem ascendência sobre a segurança. Por outro lado, este tende a ser um investidor que, em alguns casos, valoriza a liquidez, pois deseja ter capital à mão para ativos que propiciem ganhos rápidos.
Aqui também podemos encaixar os investidores experientes e profissionais do mercado financeiro. Por terem mais conhecimento, podem tomar risco de forma consciente, o que aumenta consideravelmente a razoabilidade na escolha dos seus investimentos.
Em resumo, podemos identificar os 3 grandes perfis de investidor da seguinte maneira:
Conservador | Moderado | Arrojado/Agressivo |
---|---|---|
Prioriza a segurança | Aceita algum risco | Rentabilidade acima da segurança |
Pouco ou nenhum conhecimento | Já fez investimentos | Experiente ou profissional do mercado |
Foco no curto prazo | Visa o médio e longo prazo | Não há prazo definido |
Como descobrir o perfil de investidor?
Para descobrir seu perfil de investidor é necessário preencher a API (Avaliação de Perfil de Investidor), mais comumente chamada de Suitability. Oficialmente, você pode respondê-lo na plataforma da sua corretora de valores de escolha. Além disso, planejadores financeiros também devem aplicar esse tipo de teste com seus clientes.
Ou você pode fazer o teste logo abaixo, em menos de 1 minuto, e ter uma prévia do seu resultado:
É muito comum que sua primeira reação ao se deparar com esse questionário seja de desconfiança quanto à necessidade de dar tantas informações. Há pessoas, inclusive, que consideram a suitability apenas uma “burocracia chata”, entretanto, é uma visão equivocada.
Esse tipo de questionário existe justamente para proteger o investidor de recomendações de investimento inadequadas, e também para ajudá-lo a ter uma visão mais completa de si para tomar decisões financeiras coerentes.
Pense na suitability como uma anamnese. Quando você vai a um médico pela primeira vez, ele faz inúmeras perguntas sobre sua saúde e seus hábitos e, além disso, ainda pede vários exames. O motivo é simples: para que um médico possa ser correto no seu tratamento, ele precisa conhecê-lo. Com sua saúde financeira não é diferente.
Dessa forma, não deixe de preencher o questionário de sua corretora da forma mais completa possível. Garantir o nível de acerto da ferramenta na determinação de seu perfil é a melhor forma de usá-la a seu favor, acessando produtos financeiros mais adequados ao seu perfil.
Por que as corretoras exigem o teste do perfil do investidor?
Ao abrir conta em uma corretora de investimento, o preenchimento do formulário de suitability será uma das exigências iniciais. Isso acontece por dois motivos:
Primeiro, por tratar-se de uma determinação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), como forma de assegurar a lisura da relação entre corretora e investidores. O objetivo é evitar que o cliente seja induzido a erro por recomendações de investimentos que não sejam compatíveis com seus conhecimentos de mercado, predisposição ao risco e metas financeiras.
A recomendação de investimentos incompatíveis com o perfil do investidor é uma irregularidade passível de fiscalização e eventuais sanções à corretora por parte da CVM.
Além da obrigatoriedade, a suitability é uma ferramenta útil para a corretora mapear perfis e, assim, prestar um serviço mais acertado aos clientes. Além de definir o perfil de investidor – conservador, moderado ou agressivo – cabe à corretora a responsabilidade de categorizar seu portfólio de produtos levando em consideração, entre outras coisas, a classe de risco dos ativos.
Quais os melhores investimentos para cada perfil de investidor?
Saber qual o melhor investimento para cada tipo de investidor é algo bastante complexo e que envolve uma ampla combinação de fatores.
Nesse sentido, o teste de perfil constitui um aliado muito relevante, pois como eu disse acima, as corretoras têm a responsabilidade de categorizar seus portfólios de produtos em linha com os critérios de identificação de perfil trabalhados na suitability.
Sendo assim, podemos fazer uma generalização de investimentos adequados a cada um:
- investidor conservador: serão mais indicados investimentos em renda fixa, como CDBs e Tesouro Direto;
- perfil moderado: terá uma carteira que contemple os ativos de renda fixa, combinados com um pequeno percentual de renda variável, como fundos e ações;
- investidor arrojado: terá uma porcentagem da carteira em estratégias de maior risco, com ações e derivativos, além de contratos futuros variados (juros, moedas, índices e commodities).
De qualquer modo, vale lembrar que uma carteira eficiente e bem diversificada conta com variadas classes de ativos. O que muda, neste caso, é que, quanto mais conservador, menor será a porcentagem da carteira do investidor em ativos de alto risco, e vice-versa.
É possível mudar o perfil de investidor?
Mudar o perfil de investidor é possível a qualquer momento. O fato de ter preenchido um formulário de suitability não o torna refém do que se identificou ali como sendo o seu perfil. Tenha em mente que o resultado aferido num questionário de perfil é similar a uma fotografia, e expressa quem é você naquele momento.
É claro que existem algumas características de personalidade que nos acompanham a maior parte da vida, mas, por outro lado, também passamos por inúmeras mudanças ao longo do tempo. Novas experiências, expectativas relativas a cada momento, acontecimentos que nos fazem reavaliar planos, enfim, somos seres em constante mudança. Isso é algo bem natural.
Além disso, sua vida financeira também passa por mudanças, não é mesmo? Uma promoção com aumento de salário, um novo emprego, a decisão de fazer uma viagem, um curso, o nascimento de um filho demandando novo planejamento das finanças… Vários fatos podem fazer com que você precise repensar a forma como aplica seu dinheiro.
A instrução CVM 539/2013 determina que as instituições financeiras façam a reavaliação do perfil de investidor a cada dois anos, de forma a acompanhar eventuais mudanças na tolerância ao risco e nos planos financeiros dos clientes.
Contudo, além dessa atualização bianual, você pode solicitar ao seu banco ou corretora a atualização de seu perfil, sempre que houver alguma mudança relevante em sua vida financeira e você considere que o perfil anteriormente informado está em desacordo com o seu momento de vida.
Conclusão
Descobrir seu perfil de investidor é muito importante para protegê-lo de riscos que estejam fora do seu padrão de tolerância, metas financeiras e disponibilidade de recursos.
Além disso, preencher um teste que identifique seus principais traços de personalidade quanto ao trato com recursos financeiros, também irá ajudá-lo em seu processo de autoconhecimento para traçar seu planejamento financeiro.
É altamente recomendável que você só invista naquilo que compreenda o racional. Entretanto, apenas compreender o racional e ter o valor financeiro para aportar não é suficiente para assegurar que você esteja na melhor estratégia. É necessário também saber avaliar o quanto determinado tipo de investimento o deixará confortável.
O suitability assegura que a corretora faça recomendações alinhadas ao seu perfil de risco, mas a decisão final quanto aos investimentos sempre será sua. Portanto, quanto mais você se conhecer e souber como lidar emocionalmente com o dinheiro, melhor direcionamento dará aos seus investimentos.
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Perguntas frequentes
- Quais são os perfis de investidor?
De acordo com as normas e procedimentos definidos pela CVM para análise de perfil do investidor, temos três categorias básicas: conservador, moderado ou arrojado/agressivo. E cada um desses perfis têm diferentes níveis de conhecimento e apetite ao risco.
- Como saber meu perfil de investidor?
A melhor forma de saber qual o seu perfil de investidor é preencher o questionário de suitability disponibilizado por sua corretora de investimento. Caso você utilize os serviços de um planejador financeiro independente, este também deverá lhe dar acesso a esse tipo de questionário.
- Para que serve um perfil de investidor?
A análise de perfil visa proporcionar segurança ao investidor, assegurando que as recomendações de investimento que receba estejam alinhadas ao seu planejamento financeiro, características socioeconômicas e tolerância ao risco.