O fenômeno da reduflação não é uma prática nova, mas volta a ficar evidente em momentos de alta da inflação. O índice medido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) atingiu 11,73%, no acumulado dos últimos 12 meses.
Com esse cenário, juntamente com os juros mais caros no mercado, os consumidores estão encontrando produtos com peso reduzido, mas com o mesmo preço dos produtos anteriores. Essa é a chamada “reduflação”, uma estratégia utilizada pela indústria para driblar a alta dos preços.
Diante disso, o iDinheiro conversou com especialistas em economia e direito do consumidor para entender como essa prática funciona e como o consumidores pode identificar possíveis abusos.
Entenda o que é a “reduflação”
Como explica Rubens Moura, professor de Ciências Econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, a “reduflação” é uma forma de maquiar os preços dos produtos:
“A ‘reduflação’ não é nada mais do que você diminuir o peso ou a quantidade de itens que são embalados. Então, basicamente produtos de limpeza, biscoitos, alimentos embalados, processados, por exemplo, têm esse fenômeno de maquiagem de preço ou reduflação, onde você vai diminuindo o peso da embalagem, diminuindo as unidades que são vendidas em embalagens, sem alterar o preço“.
Dessa forma, a indústria reduz a embalagem ou peso dos pacotes dos produtos, mas os preços continuam os mesmos e, em alguns casos, ficam até mais caros do que o produto “original”.
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Segundo Bruno Boris, professor de Direito do Consumidor da Faculdade de Direito do Mackenzie, a prática de mascarar a alta dos preços não é ilegal. Assim, o fornecedor pode alterar o tamanho e o peso de seus produtos e embalagens. No entanto, é importante ter uma informação sobre a mudança na embalagem do produto:
“Ainda que a redução da embalagem possa deixar o produto mais barato ou até uma forma de um fornecedor manter o preço ‘comum’, mas diminuindo o tamanho, é de boa-fé que o fornecedor informe a alteração de uma prática comercial adotada por muito tempo. Assim, o fornecedor de boa-fé costuma informar ‘nova embalagem’, ‘novo peso’.”
Dessa forma, quando não há uma informação clara sobre a alteração, o consumidor pode entrar com uma ação judicial contra a empresa responsável pelo produto:
“Quando não há informação clara que se pode imaginar uma possibilidade de processo ou reclamação junto aos órgãos de proteção e defesa do consumidor. Isso porque é possível imaginar que o consumidor não percebeu a diferença, especialmente se ela não é tão relevante/perceptível ao consumidor. Além disso, é importante sempre respeitar o direito à informação do consumidor”, explica Bruno.
Quais são as previsões para o cenário futuro da inflação?
Apesar da desaceleração da inflação em junho – em 12 meses, o IPCA passou a acumular alta de 11,73%, contra o 12,13% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores – as expectativas para os próximos meses ainda não são boas. Esse é o cenário apontado pelo professor Rubens, onde a inflação deve fechar o ano ainda em alta.
De acordo com o especialista, o cenário atual da inflação brasileira está diretamente ligado a diferentes fatores:
- Retomada das cadeias produtivas pós pandemia: Reduziu a oferta de matéria-prima, de bens intermediários. Assim, se há restrição de oferta, aumenta-se o preço dos produtos.
- O aumento do preço do petróleo e os seus derivados.
- A guerra na Ucrânia.
“A nossa taxa de inflação não está com uma previsão de estabilidade ainda, tanto que o Brasil já reviu pela décima sexta vez a inflação estimada para 2022. Além disso, toda vez que tem uma nova revisão, a previsão está aumentando. Ela já ultrapassou a previsão para esse ano, está chegando a 9% e provavelmente vai ser revista de novo”, explica.
O professor também avalia que o aumento da Selic, que chegou a 13,25% na última reunião, não é suficiente para conter a escalada da inflação:
“Apesar do aumento da Selic para controlar a inflação, ainda existe uma inércia muito grande. O aumento da taxa de juros para controlar a inflação é um efeito demorado e só vamos começar a ver o efeito disso no controle inflacionário em 2023 e 2024. Então, para esse ano, infelizmente a inflação vai continuar subindo“, completa.
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