O Brasil enfrentará nos próximos meses uma ameaça ao fornecimento de energia. De acordo com dados da Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), é a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. E com a chegada do período de estiagem, os principais reservatórios de água rondam na capacidade mínima — o que torna a produção elétrica mais difícil e a conta de luz mais cara.
A geração de energia no Brasil se apoia na produção hidrelétrica: nos cálculos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a energia produzida nos reservatórios corresponde a 64,9% de toda a produção do país. Por isso, qualquer desbalanceamento nesse sistema pode afetar o preço para o consumidor.
Mas, quais as outras diferenças da crise hídrica em 2021? O iDinheiro conversou com especialistas na área de energia para explicar o que é a crise e o que ela pode significar para quem já está com o orçamento apertado em casa.
Crise hídrica em 2021: o que você precisa saber
Não é a primeira vez que o Brasil enfrenta desabastecimento. Em 2001, de forma similar, o país precisou reduzir o consumo de eletricidade em 20%. Há seis anos, em 2015, um episódio de baixo volume afetou a produtividade hidrelétrica brasileira. “Nestes casos foi preciso acionar de forma contínua todas as termelétricas disponíveis, mesmo as mais caras, a óleo. Não foi, porém, necessário decretar um racionamento”, relembra o pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), Roberto Brandão.
Embora episódios críticos de desabastecimento já tenham acontecido no país, em 2021, a situação pode ser mais crítica. É que as afluências — isto é, o volume de água aproveitado para gerar energia — ficou 30% abaixo da média histórica brasileira. “Isso representa uma redução da energia hídrica disponível em relação à média de 2,3 vezes a geração média de Itaipu dos últimos nove anos”, detalha Brandão.
Quanta energia o seu estado consome?
O pesquisador Sênior da Fundação Getúlio Vargas Energia, João Teles, elenca quais as regiões mais afetadas pela crise atual. “Você tem ela mais localizada no Sudeste por conta de que as usinas hidrelétricas estão com os níveis mais baixos. No Norte e Nordeste, os níveis de armazenamento estão mais altos”, aponta.
A situação pode se agravar até o fim do ano. “Poderá haver um problema no último trimestre de atendimento à ponta da carga. O ONS já está trabalhando nas restrições hidráulicas, tomando medidas para que isso possa não ocorrer”, estima Teles. ‘Ponta de carga’ é o período de maior consumo elétrico no país.
A equipe iDinheiro procurou o ONS para entender melhor o abastecimento elétrico, mas, até o fechamento desta matéria, o órgão não retornou com especialista para a reportagem.
E como o desabastecimento pode afetar a conta de luz?
Mesmo que o desabastecimento, por ora, esteja localizado no sudeste, o país como um todo pode pagar o preço do desabastecimento. “Todos serão afetados. Primeiramente, é aplicado a bandeira vermelha dois de energia, e todos os consumidores do país pagam esse adicional na sua conta, que é R$ 6,24”, estima Teles.
O pesquisador indica: os preços podem subir ainda mais no próximo ano, após o reajuste anual das distribuidoras de energia. A possível elevação já foi anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em debate sobre a crise hídrica na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, na última terça, 15, o presidente da Aneel, André Pepitone, estima uma alta de pelo menos 5% no valor da energia em 2022.
“O número que o Ministério de Minas e Energia tem usado publicamente é que vamos ter um custo adicional de R$ 9 bi [de janeiro a novembro de 2021], até abril já se gastou R$ 4 bi adicionalmente. Isso vai ter impacto adicional na tarifa de 5%”, calcula.
A reportagem procurou a Aneel para comentar a elevação, mas não obteve retorno.
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