A baixa da taxa básica de juros em seis anos consecutivos levou o investidor para a renda variável, onde, mesmo que com mais riscos, poderia se encontrar maior rentabilidade.
Na última semana, no entanto, o Banco Central concretizou a primeira alta da Selic desde então, chegando a 2,75% ao ano. Nesse cenário, é o momento de voltar para a renda fixa?
Antes da alta definida pelo Copom na última quarta-feira, 17, a Selic estava no menor patamar da história, em 2% ao ano. Isso puxava para baixo o rendimento dos principais investimentos em renda fixa, que chegaram a ter resultados negativos, inferiores à inflação.
Apesar da alta recente tornar os rendimentos mais vantajosos, quem busca mais lucros ainda não deve abandonar a renda variável. E, mesmo dentro da renda fixa, alguns títulos não são recomendados.
Entenda como a alta da taxa Selic impacta os investimentos e quais as melhores opções para investir neste momento.
O efeito da Selic nos investimentos
A Selic é a taxa básica de juros da economia, um instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação do país. O principal efeito de uma Selic mais baixa é uma maior movimentação da economia, com crédito mais barato no mercado.
A Selic é diretamente ligada ao CDI, uma taxa utilizada para definir a cobrança de juros em curto prazo entre bancos. Normalmente, o CDI vale 0,1% a menos que a Selic.
Grande parte dos investimentos em renda fixa são atrelados ao CDI. E, portanto, quanto menor a Selic, menor o rendimento para quem investe nesses títulos.
“O Banco Central começou a fazer uma política bastante expansionista, onde ele reduziu de forma muito intensa a taxa de juros”, introduz o gestor de investimentos da Warren, Igor Cavaca.
Ao mesmo tempo que isso facilitou o acesso a empréstimos e financiamentos, levou uma fuga dos investidores da renda fixa em busca de maior rentabilidade. Tanto que em 2020, ano em que a Selic chegou a 2%, o número de investidores pessoa física na bolsa de valores brasileira praticamente dobrou.
Segundo dados da B3, eram 1,68 milhão de investidores em 2019 e o número chegou a 2,48 milhões em 2020, com um montante de R$ 303 bilhões.
E não é à toa. Muita gente que insistiu em ficar na renda fixa mesmo com a Selic baixa amargou perdas. O rendimento de fundos atrelados ao CDI ficou abaixo da inflação, que fechou o ano em 4,52%.
É hora de voltar para a renda fixa?
Quem já estava investindo em renda fixa pode comemorar: o dinheiro irá render um pouco mais do que o que estava previsto no início do ano. E a perspectiva é que a taxa aumente ainda mais.
Conforme o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira, 22, a expectativa do mercado é que a taxa básica de juros feche 2021 em 5%.
Para Igor Cavaca, até que se chegue a esse ponto, contudo, o investidor ainda vai encontrar rendimentos negativos na renda fixa.
“A gente ainda tá com uma taxa muito abaixo da sustentável para a economia brasileira. Por isso, mesmo com a tendência crescente da taxa de juros, estamos em um cenário propício a tomar risco”, analisa.
Segundo ele, caso a Selic ultrapasse os 4,5% pode haver um impacto negativo na renda variável, já que as empresas podem sofrer com a perspectiva de uma economia menos aquecida. Isso tornaria ainda mais forte uma volta para a renda fixa.
Mas, mesmo agora, é possível que mais investidores, sobretudo os mais conservadores, escolham voltar para a renda fixa em busca de maior segurança diante de um cenário incerto.
“A queda a 2% deixou o investidor muito inquieto. O rendimento estava tão baixo que praticamente nem valia a pena investir. Quando a gente volta a ter uma taxa de retorno um pouco mais adequada, boa parte da população volta a ter um perfil mais conservador”, percebe o head de renda fixa da Easynvest, Guilherme Artmann.
Ele reitera, porém, que nem todos os investidores que foram para a renda variável com a queda da Selic devem abandoná-la. “Teve muita gente que foi e não conhecia a renda variável, começou a pesquisar, procurar e gostou. Uma parte dos investimentos vai ficar em renda variável”, afirma.
Onde investir agora?
A renda fixa se torna mais atrativa com a alta recente e a perspectiva de novos aumentos durante o ano. Mas, mesmo dentro dela, é importante prestar atenção na escolha dos papéis.
Os títulos atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, são os mais interessantes neste momento. A estimativa do boletim Focus é que o índice feche o ano em 4,71%.
Os papéis pós-fixados atrelados à Selic ficam um pouco mais interessantes com a alta e devem se tornar ainda mais vantajosos com a perspectiva de altas na taxa ao longo do ano.
Contudo, os especialistas não recomendam investir nos títulos pré-fixados. Com o aumento do prêmio de risco, há tendência de rendimento negativo para essa categoria.
“Deve ter cuidado e pesquisar antes de investir, estamos em um ambiente muito instável. É simplesmente ficar atento, não é só comprar e esperar”, recomenda Guilherme.
Os fundos imobiliários também podem ser uma boa opção neste momento para quem tem maior apetite ao risco.
“A renda fixa volta a ter maior atratividade, mas isso sugere que os fundos imobiliários devam ter também um desempenho maior. Quem é investidor que busca rendimentos de longo prazo e rentabilidade mais estável, deve diversificar a carteira”, sugere o analista de fundos imobiliários da Ativa Investimentos, Mario Campos.
Ele indica que os ativos mais seguros nesse segmento são de imóveis com boa localização e qualidade de contrato.
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