A expectativa do mercado se confirmou. A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2021 decidiu pela manutenção da Selic a 2% ao ano e a retirada do forward guidance (FG).
A decisão, segundo o Copom, foi influenciada pelo início da imunização contra Covid-19, que deve promover uma “recuperação sólida” da economia. Para o Banco Central, a inflação traz fatores de risco em duas direções: o nível de ociosidade pode produzir uma trajetória de inflação abaixo do esperado, ao passo que o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia pode piorar a trajetória fiscal do país.
A projeção do mercado era exatamente essa. Com a queda do FG, há abertura para que o Copom aumente a taxa básica de juros nos próximos encontros.
No entanto, isso só deve ocorrer a partir de maio. Isso é o que acredita o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti. “A expectativa do mercado financeiro é de que a Selic seja elevada e feche o ano em 3,25%“, afirma.
Ele também destaca que essa alta deve ocorrer de forma gradual a partir do segundo trimestre. No entanto, a sinalização da retirada do FG na ata da reunião de dezembro de 2020 mostrou que há preocupação com a questão fiscal brasileira.
No comunicado, o Copom reitera que “o fim do forward guidance não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.
Além disso, essa indicação mostra a relevância da agenda de reformas para a economia brasileira. Com a confirmação agora, o Banco Central reforça que pretende acalmar o mercado.
Bastidores da reunião do Copom que definiu a Selic em 2% ao ano
A primeira reunião do Copom de 2021 foi encarada como diferente das anteriores. Mesmo com a expectativa de permanência da Selic a 2% ao ano, havia a possibilidade de uma surpresa.
Para entender, é preciso conhecer os termos dove e hawk. O primeiro indica uma postura favorável às taxas de juros baixas, sem preocupação com a inflação.
O segundo significa um comportamento de defesa de juros elevados e fortalecimento da política de austeridade. Durante todo o ano de 2020, o Banco Central (BC) adotou uma postura dovish.
Tanto é que a Selic a 2% ao ano é o menor patamar histórico. Em agosto de 2020, o Banco Central implementou o forward guidance.
O que é o forward guidance?
Essa ferramenta é utilizada pelos Bancos Centrais para direcionar a economia e mostrar qual será a política de juros nos próximos meses.
Basicamente, o BC informou ao mercado que não haveria aumentos no curto prazo. Portanto, era desnecessário fazer qualquer tipo de especulação.
No entanto, houve uma mudança na comunicação a partir do final do ano passado. O BC indicou a possibilidade de retirar o FG, adotando uma postura marginalmente hawk, como define o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Isso porque o horizonte relevante da política monetária mostra que ainda não está na hora de aumentar a taxa de juros.
“Em suma, a reunião de hoje, ainda que se esteja precificando algo hawk para o BC, tem um flanco dove, que não estava disponível em outras reuniões”, destacou Sanchez.
Apesar disso, Bertotti ressalta que o FG foi excluído, porque “não há mais necessidade de passar pela precificação dos juros”. Com isso, a preocupação do BC passa a ser a inflação.
Como a Selic a 2% ao ano interfere na sua vida
A Selic é a taxa básica de juros da economia. Portanto, é utilizada para orientar outras cobranças do mercado, como as alíquotas de empréstimos e financiamentos.
Por meio da interação do Copom na Selic, é possível controlar a inflação. Para 2021, a meta do IPCA para o Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Contudo, o aumento de preços verificado nos últimos meses de 2020 mostra uma tendência de alta.
Tanto é que a inflação no ano passado terminou em 4,52%. Esse índice foi o mais alto desde 2016.
Caso o FG fosse mantido, o BC novamente sinalizaria ausência de mudança na Selic a curto prazo. Como resultado, o IPCA poderia se elevar ainda mais.
Por outro lado, o resultado da inflação pressionou o Copom a retirar esse instrumento monetário. O motivo é apontar a possibilidade de elevação da Selic.
Isso depende das previsões para o IPCA e do balanço de riscos. No entanto, é um movimento normal do mercado devido ao reaquecimento da economia.
Resumo da reunião
Em outras palavras, o que aconteceu foi o seguinte:
- a pandemia retraiu a economia;
- o Copom diminuiu a Selic a 2% ao ano para aquecer o consumo;
- a demanda acima do esperado e outros fatores, como a valorização do dólar, pressionaram a inflação em 2020;
- o BC sinalizou o forward guidance para mostrar ao mercado que a Selic permaneceria em 2% ao ano até 2021, pelo menos;
- a economia voltou a aquecer nos últimos meses de 2020, apesar de nem todos os segmentos terem se recuperado totalmente;
- na reunião de dezembro, o Copom indicou em ata que o FG poderia cair no próximo encontro, abrindo margem para aumento da Selic;
- a primeira reunião de 2021 confirmou as projeções do mercado.
Apesar disso, é esperado que a Selic comece a aumentar apenas a partir de maio. Portanto, ainda há tempo para conseguir crédito a preço baixo.
De toda forma, a Selic a 2% ao ano tem prazo para acabar, a fim que se evite uma alta maior da inflação. Afinal, se isso acontecesse, a economia toda entraria em colapso, como ocorreu entre os anos 1980 e 1990.
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