A pandemia virou de cabeça para baixo as expectativas que os economistas tinham para a economia brasileira. Apesar das expectativas de crescimento, o PIB brasileiro fechou o ano em queda.
Dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quarta-feira, 3, e mostram um resultado bem aquém do que se esperava para 2020. O total de riquezas produzidas no ano passado teve queda de 4,1%, o pior resultado da série histórica, iniciada em 1996.
Não foi só o Brasil quem teve problemas econômicos em 2020. Mesmo economias mais avançadas, como Estados Unidos, Espanha e Reino Unido, tiveram quedas de 3,5%, 11% e 9,9%, respectivamente, afetadas pelas medidas restritivas para contenção da pandemia.
Porém, o que esses números significam? Como a queda do PIB pesa no bolso do brasileiro?
A queda do PIB brasileiro
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.
A economia brasileira passou por anos difíceis entre 2015 e 2016, a maior recessão registrada na série histórica do IBGE.
Após terminar 2017, 2018 e 2019 em alta, as expectativas eram boas para 2020. A previsão da Dimac/Ipea, ainda em 2019, era de uma aceleração de 2,3%.
A dificuldade de estabelecer as atividades econômicas e o baixo consumo das famílias diante de um cenário de incertezas trouxe resultados amargos para o PIB no ano da pandemia. No entanto, segundo especialistas, o índice poderia ser ainda pior, não fossem ações tomadas pelo governo para conter os efeitos econômicos.
“O auxílio emergencial foi muito importante e também tivemos a questão do juros a 2% ao ano. A gente costuma dizer que a taxa de juros é o acelerador da economia, quando se reduz a taxa de juros, a economia anda mais rápido. Quando reduz a taxa de juros, tira-se o pé do freio e coloca no acelerador”, explica o sócio e estrategista da 051 Capital, Rossano Oltramari.
O Brasil teve, inclusive, um resultado “melhor” comparado a outros países emergentes e mesmo economias desenvolvidas.
O coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da FGV, Emerson Marçal, contudo, pontua que a situação não é animadora.
“A nossa queda foi menor que a do Reino Unido porque eles tiveram duas ondas em um mesmo ano. Tem que olhar com cuidado para qualificar o dado do Brasil, porque o efeito da pandemia no Brasil ainda vai entrar em 2021. O Brasil poderia ter feito muito melhor se tivesse conseguido controlar melhor a pandemia”, avalia.
As consequências da queda do PIB brasileiro
O principal efeito de um PIB em queda para o brasileiro é o desemprego. O desemprego em 2020 atingiu 13,5% de acordo com dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira, 10. A pesquisa também mostrou que a taxa atingiu recordes em 19 estados e no Distrito Federal.
“O efeito direto da pandemia foi basicamente na atividade econômica das empresas, vários setores praticamente pararam de existir e o resto da economia não absorveu o contingente de desempregados”, pontua Emerson Marçal.
Ele destaca que o clima de instabilidade causado pela pandemia também afetou diretamente o câmbio, o que encareceu o preço dos produtos no supermercado para o consumidor final.
Conforme a economista e coordenadora do curso de administração de empresas na Mackenzie Campinas, Leila Pellegrino, o resultado também acentua as desigualdades sociais, à medida que a parcela da população mais prejudicada é a mais pobre.
Isso porque, o Brasil tem uma alta parcela de informalidade. Segundo o IBGE, a taxa média de informalidade ficou em 38,7% no ano passado, 2,4 pontos percentuais abaixo do que em 2019.
A queda do índice, porém, não foi algo positivo: em vez de os brasileiros terem saído da informalidade para um emprego fixo, simplesmente pararam de trabalhar devido à pandemia.
“De um lado a gente tem desemprego, o que leva à diminuição no consumo e aumento da concentração de renda. A camada mais pobre fica mais desprotegida nesse momento de vulnerabilidade”, percebe.
O PIB vai voltar a subir?
A perspectiva é de uma melhora do resultado em 2021, passado o baque de março de 2020 quando toda a economia teve de parar para aprender a funcionar de forma remota.
O último boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, 8, pelo Banco Central, trouxe a expectativa de crescimento do PIB em 3,26% para 2021, ainda sem recuperar o baque sofrido em 2020. Para 2022, a estimativa de expansão do PIB é de 2,48%.
Para Leila, contudo, o índice depende diretamente do controle da pandemia no país.
“Se a gente não conseguir manter uma política de saúde ativa para controlar a pandemia, esse resultado pode ser pior, porque podemos ter interrupções sucessivas. Isso prejudica muito a retomada da economia em um futuro próximo”, afirma.
Rossomano é otimista sobre a alta do índice e acredita que o desemprego também deve cair ao longo do ano.
“É necessário uma política fiscal responsável, clareza na condução da economia e política brasileiras, e reformas. Temos uma pauta gigante de reformas que se a classe política decidir avançar, tem um ganho muito grande. Para o Brasil deslanchar, falta confiança e investimento”, ressalta.
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