A intervenção de Bolsonaro na Petrobras na última sexta-feira, 23, aliada à reclamações sobre o aumento nos preços dos combustíveis, gerou um forte reboliço no mercado financeiro, respingando em outras estatais.
A possibilidade de uma intervenção ainda maior e da aceitação de medidas populistas causaram uma perda de R$ 113,2 bilhões nas três principais estatais do Brasil (Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil) em apenas dois dias — valor quase equivalente ao BTG Pactual, de acordo com dados da consultoria Economática.
Somente na Petrobras, a queda registrada foi de R$ 99,6 bilhões. As ações da estatal, que já haviam sofrido uma baixa de aproximadamente 8% na última sexta-feira, 19, caíram 20,48% na última segunda-feira.
Nos próximos dias, existe a possibilidade de o desempenho negativo ser mantido, visto que ao menos seis casas rebaixaram a recomendação para as ações e diminuíram o preço-alvo da companhia para os próximos doze meses.
No Banco do Brasil (BB), o valor de mercado retrocedeu R$ 12,6 bilhões em dois dias e o mesmo aconteceu na Eletrobras, com uma perda de quase R$ 900 milhões.
Com informações do O Estado de S. Paulo.
Bolsa em queda
Neste contexto, em que as principais ações do Ibovespa estão em queda, a B3 retrocedeu 4,87% no pregão da última segunda-feira, 22, resultando na maior queda em um único dia desde 24 de abril de 2020, quando o ex-ministro Sérgio Moro deixou o governo em meio à denúncias de tentativas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
Já a Bolsa Paulista sofreu uma perda de quase 6 mil pontos e fechou em 112.667 pontos, o menor patamar desde 3 de dezembro do ano passado.
O dólar também sofreu com o “mau humor” dos investidores e subiu 1,27%, chegando a R$ 5,45. Na máxima do dia, a moeda chegou a bater R$ 5,53, fazendo com que o Banco Central (BC) interviesse para acalmar o mercado.
Outra consequência da incerteza sobr ea indicação do general Joaquim Silva e Luna para comandar a Petrobras foi a progressão do contrato de Credit Default Swap (CDS), que mede o risco do país.
O CDS teve uma elevação de 11% em comparação ao fechamento da última sexta-feira, para 163,25 pontos.
Opinião dos especialistas sobre a intervenção de Bolsonaro
Segundo os especialistas, o discurso de Jair Bolsonaro nos últimos dias lembra as medidas de intervenção aplicadas pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2013, no setor elétrico.
Medidas essas que provocaram prejuízos bilionários para as empresas e para a sociedade de forma geral.
No entanto, o pior foi o fato do presidente ter ignorado mais uma promessa eleitoral feita durante a campanha.
“Para o mercado, a decisão do presidente é uma decepção. A agenda de privatização não foi adiante, e a anticorrupção também não”, disse o presidente da RB Investimentos, Adalberto Cavalcanti, ao Estado.
Ele afirma que, do ponto de vista econômico, a alta do dólar pode ter um reflexo inflacionário tão danoso quanto a alta dos combustíveis devido a turbulência financeira.
No parecer do economista Silvio Campos Neto, todos esses ruídos ocasionam um ambiente de imprevisibilidade, o que acaba por influenciar as decisões de investimentos.
Na opinião dele, as preocupações que apareceram nos últimos dias só devem desaparecer se houver algum progresso sobre o novo auxílio emergencial.
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