A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Saúde emitiram alguns comunicados em julho sobre o risco de desabastecimento de medicamentos no mercado. Segundo a agência, faltam antibióticos e outros itens essenciais ao SUS (Sistema Único de Saúde), como amoxicilina, dipirona e soro.
O risco de desabastecimento acontece em um momento de alta de inflação e após o reajuste de 10,89% nos preços de medicamentos, aprovado pelo governo em abril.
Diante disso, o iDinheiro conversou com especialistas para entender os motivos da falta de medicamentos e os impactos disso no bolso dos brasileiros.
Por que faltam medicamentos no Brasil?
Segundo Allan Augusto Gallo Antonio, advogado, mestre em Economia pelo Mackenzie e analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, o principal medicamento que falta no Brasil atualmente é a dipirona injetável, ou seja, a falta de medicamentos atinge os hospitais e não as farmácias em si.
“Falando pelo lado da economia, se aumenta a demanda, o preço vai subir e, da mesma forma, se diminui a demanda, a vontade das pessoas de comprarem aquele produto, o preço vai cair. Por outro lado, também tem a questão da oferta: quanto menos você fabrica determinado produto e mais tenha demanda, mais o preço vai subir”.
Dessa forma, o especialista explica que houve um aumento exponencial da demanda de medicamentos em conjunto com um encolhimento da oferta, impulsionado por diferentes fatores:
- Covid-19: todos os esforços da indústria farmacêutica foram direcionados para a produção de insuos para o combate da Covid-19, o que causou um encolhimento da oferta.
- Petróleo: o constante aumento no preço do petróleo desde o começo do ano também impacta no preço dos medicamentos, porque existem componentes de petróleo nas embalagens de alguns medicamentos e também pelo aumento no custo do transporte desses produtos.
- Lockdowns isolados na China: com o aumento de lockdown por surtos de Covid-19 na China que, junto com a Índia, representa mais de 60% da importação de insumos farmacêuticos do Brasil, também há um encolhimento da oferta, o que reflete na quantidade e no preço desses medicamentos.
- Guerra na Ucrânia: por fim, o especialista ressalta que muitos insumos usados na fabricação de medicamentos vêm da Rússia, além da relação com o petróleo. Isso também causa uma diminuição da oferta.
O especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior Paulo César Alves Rocha também avalia que esses são os principais motivos para a falta de medicamentos no Brasil. Para além disso, ele destaca a alta do dólar e o frete internacional:
“O aumento nos medicamentos comuns está associado ao dólar que está subindo e ao custo de frete internacional que aumentou muito”.
Ademais, o especialista sugere que, como também se trata de um problema de logística, é necessária uma mudança na distribuição dos medicamentos no Brasil:
“É precisou usar regimes especiais e reduzir custos. Ou seja, na distribuição de medicamentos, você pode passar a usar modelos parecidos com os mercados de aplicativos, invés de deixar os produtos e grandes centrais de distribuição. Assim, teria uma distribuição equilibrada”.
Como a falta de desabastecimentos te afeta?
De acordo com Allan, se há o aumento da demanda e o encolhimento da oferta, como é o caso dos medicamentos, o preço deve subir. Além disso, com a falta de medicamentos nos hospitais, uma possível alternativa é a indicação de medicamentos substitutos:
“Assim, caso esses substitutos sejam também vendidos em farmácias, pode ser que o preço também aumente para o consumidor”, avalia.
Pensando em uma perspectiva futura, o especialista ressalta que, mantido o cenário atual citado anteriormente, não deve faltar medicamentos para o consumidor nas farmácias, mas o preço deve subir.
“Isso porque, além da questão do petróleo, da Covid-19, do lockdown na China, também estamos sofrendo com a alta da inflação. Ou seja, depois de todo o incentivo fiscal, com mais liquidez no mercado, temos a questão da inflação que também reflete no preço dos medicamentos”.
Dessa forma, é importante destacar que, segundo os especialistas ouvidos pelo iDinheiro, não há um desabastecimento real que justifique uma corrida às farmácias, mas o preço dos medicamentos deve continuar subindo até o final do ano.
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