Selic em alta: entenda os efeitos do aumento da taxa no seu bolso

A taxa Selic aumentou pela quinta vez consecutiva, o que deve deixar crédito mais caro e desestimular o consumo. Veja os efeitos do aumento no seu bolso.

Escrito por Júlia Ennes

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O quinto aumento consecutivo da taxa Selic foi decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na última quarta-feira, 22. Desde março de 2021, a taxa já deu um salto de 4,25 pontos percentuais – o maior aumento feito pelo BC desde 2003. 

Além disso, há uma tendência de mais altas pela frente. Segundo o último Boletim Focus, diante da pressão inflacionária, economistas estimam que a taxa de juros chegue a 8,25% em dezembro deste ano. Isso significa que nos próximos meses, os brasileiros sentirão um maior impacto em diversos setores, como no consumo, no crédito e financiamentos.

O iDinheiro reuniu a visão de especialistas para entender melhor os efeitos práticos do aumento da taxa Selic. Confira a seguir.

Como o aumento da Selic pode afetar seu bolso?

É importante lembrar que a Selic é a taxa básica e, portanto, é usada como referência para outras taxas de juros. É a partir dela que as instituições financeiras definem quanto vão cobrar por empréstimos a pessoas ou a empresas, por exemplo. Por isso, em períodos de alta da Selic, é importante redobrar os cuidados com as finanças pessoais e manter o controle de gastos para evitar multas e juros por conta de atrasos de pagamentos.

Desde o ano passado, o Brasil tem enfrentado um aumento progressivo da inflação. Os efeitos vêm sendo, especialmente, sentidos no preço dos alimentos, como arroz e feijão, e no preço dos combustíveis. 

Segundo o professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Ahmed El Khatib, a elevação da taxa de juros é um mecanismo usado por governos para frear essa tendência de alta da inflação. 

Como a Selic impacta nas taxas cobradas pelos cartões de crédito, acaba havendo uma redução nas compras parceladas. Dessa forma, o consumidor tende a gastar menos, em especial com mercadorias e serviços, gerando um desaquecimento da economia e derrubando a inflação. No entanto, o aumento da taxa Selic pode também pode gerar outros efeitos colaterais.

“Esse freio pode, num primeiro momento, evitar preços mais elevados de alimentos, mas pode também deixar o crédito mais caro, fato que desestimula o consumo e investimentos das empresas”, explica Khatib. 

O especialista afirma ainda que para a população em geral, os impactos de curto prazo serão pequenos: o crédito tende a ficar um pouco mais caro e o câmbio, um pouco mais estável, com o real um pouco mais valorizado diante do dólar. “Isso reduz a pressão inflacionária sobre combustíveis e alimentos, por exemplo”, explica.

Como a taxa Selic interfere no seu empréstimo?

Com a taxa básica em alta, ficou mais caro pegar empréstimos, porque as instituições financeiras acompanham a variação da Selic.

Mas se você já fez um empréstimo, é preciso se atentar a respeito de alguns detalhes. As instituições podem atualizar a parcela com relação à taxa Selic, para que o dinheiro a ser recebido não perca valor perante a inflação, mas tudo estará especificado no seu contrato. No momento da solicitação, os empréstimo podem ter taxas pré ou pós-fixadas.

A taxa pré-fixada define, no momento em que se fecha o negócio, qual será a taxa de juros do começo ao final da operação. Já a pós-fixada varia de acordo com alguns índices, como, por exemplo, a taxa Selic. Nesse caso, dependendo da variação da Selic, o consumidor pode passar a pagar mais ou menos do que havia sido previsto no início da operação.

Aumento da taxa Selic pode ser positivo para quem quer investir

No caso dos investimentos, o aumento da taxa Selic deixa as aplicações de renda fixa mais atrativas. 

Nesse cenário de alta, os investidores costumam migrar as aplicações da renda variável para renda fixa, que podem oferecer maiores ganhos. Isso porque a taxa básica influencia diretamente nos investimentos da renda fixa, como é o caso do Tesouro Selic, poupança e CDB (Certificado de Depósito Bancário) com rendimento atrelado ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Impactos do aumento da taxa Selic em linhas de financiamento imobiliário

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) declarou, em nota, que também considera o aumento de 5,25% para 6,25% uma medida técnica necessária para conter o processo inflacionário no país

“Mesmo com o aumento, a taxa de juros se encontra em um baixo patamar, principalmente ao avaliar o histórico brasileiro em que a Selic quase sempre esteve acima de dois dígitos. A taxa de juros real segue negativa, o que configura um excelente momento para investimento em imóveis”, afirma a nota.

Para o presidente da associação, Luiz França, as condições para aquisição da casa própria permanecem atraentes e a contratação de crédito imobiliário continua crescendo. “A elevação da Selic não vai inviabilizar os planos de quem está em busca de um imóvel”, afirmou.


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Histórico de ajustes

Em outros momentos que a Selic subiu, os diretores do BC optaram por aumentos mais suaves, de 0,25, 0,50 ou 0,75 ponto percentual. Já os dois últimos aumentos foram de 1%.

Além disso, desde 2003, nenhum outro ciclo de alta dos juros teve um aumento maior do que 4 pontos, consideradas as séries de ajustes feitos em reuniões consecutivas. Por que, então, os aumentos agora têm sido maiores?

A primeira justificativa para aumentos sucessivos maiores está no fato de que a Selic estava num patamar muito baixo. Antes da série de aumentos, a taxa básica caiu nove vezes seguidas.

Outra justificativa é o momento atual do Brasil com uma alta inflação e com tendência de mais alta para os próximos meses. Segundo Ahmed El Khatib, o Brasil teve um incremento de demanda rápido, principalmente em 2020, com os auxílios emergenciais. Além disso, os choques nas cadeias produtivas globais, causados pela pandemia e, em paralelo, choques climáticos (secas e geadas, por exemplo), levaram a oferta de alimentos para baixo e os preços da energia elétrica para cima.

“Uma das formas de conter a inflação é alterando (para mais) a Selic. Para se ter uma ideia, o IPCA saiu em maio do ano passado de 1,9%, um dos menores níveis desde o início do Plano Real, para 9,7% agora, um dos mais altos. É um salto de 7,8 pontos percentuais em pouco mais de um ano. Com isso, temos aumentos sucessivos na taxa de juros a cada reunião do COPOM”, explica o professor.

O que esperar para os próximos meses

Segundo Khatib, com a taxa básica de juros mais alta, a recuperação da economia deve ficar ainda mais lenta, contribuindo para reduzir os salários e manter a taxa de desemprego em níveis elevados. A expectativa é de que a Selic encerre 2021 em 8,25% ao ano. Já para o fim de 2022, a estimativa é de que a taxa básica suba para 8,50% ao ano. 

Como vimos, uma taxa de juros mais alta significa inflação em tendência de alta também. A expectativa de inflação para 2021 segue acima da meta de 3,75% para este ano, a ser perseguida pelo Banco Central e definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No entanto, há um intervalo de tolerância que pode ser de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo; o limite é de 5,25%. 

“Os riscos continuam inclinados para o lado negativo do PIB devido ao agravamento da crise hídrica e à possibilidade de escassez de energia. Esses são os dois principais fatores”, analisa o coordenador da FECAP. 

Saiba mais sobre a taxa Selic

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, ou seja, é com base nela que outras taxas são definidas, como as usadas para empréstimos, financiamentos e até os rendimentos de alguns investimentos. 

O cálculo da Selic é feito com base em inúmeros fatores econômicos. O responsável pelos ajustes da taxa é o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM), que se reúne a cada 45 dias para fixar um valor para a Selic. Este número é denominado de Selic Meta ou Meta Selic e pode aumentar, diminuir ou se manter estável. 

O último encontro do COPOM aconteceu no dia 22 de setembro de 2021, quando a Selic Meta sofreu alta de 1%, chegando a 6,25% ao ano.

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