As discussões da CPI da Covid têm chamado a atenção do mercado. Instaurada no último dia 27, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) visa investigar a atuação do governo federal no combate à pandemia, indicando possíveis responsáveis pela crise sanitária.
A investigação está com agenda movimentada, já tendo entrevistado personagens como os ex-ministros da saúde Eduardo Pazuello, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, e o ex-ministro de relações exteriores, Ernesto Araújo. A duração da CPI da Covid é de 90 dias, podendo se estender por até um ano.
Para além das consequências políticas, a investigação pode trazer implicações econômicas para os brasileiros. A CPI da Covid é mais um ingrediente que causa instabilidade, diante de um cenário já complicado economicamente.
Caso os senadores julguem o governo como responsável pelas mais de 400 mil mortes por Covid no país, Ibovespa, juros e câmbio podem sentir importantes impactos, agravando a crise econômica. Entenda o cenário.
Consequências políticas da CPI da Covid
Para o coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Márcio Coimbra, a CPI em si não traz tantas consequências econômicas. Ele considera que a investigação é um “pós-problema” da questão real, que é a falta de vacinas, e que a imagem do Brasil já está desgastada para os investidores internacionais.
“Imagem de ineficiência de gestão, falta de confiança na gestão e nas instituições, porque elas não conseguem fazer com que o país ande, e falta de convicção no poder judiciário. Isso é um tripé que afeta a economia do Brasil em termos de investimentos”, resume o especialista.
Márcio explica que a investigação terá, impreterivelmente, efeitos nas eleições de 2022. Isso pode ser positivo caso uma mudança na gestão presidencial implique em reformas econômicas e tributárias.
O professor universitário e economista-chefe na G11 Finance, Hugo Garbe, destaca que não há como separar os impactos políticos dos econômicos, já que os dois estão diretamente interligados. O fator político tem pesado cada vez mais na escolha dos investidores quando se fala sobre Brasil, principalmente com o histórico recente de impeachment.
“A gente já vive em um cenário difícil, com pandemia, desemprego. Esse agravante político torna muito mais difícil. O mercado está receoso, aguarda. É uma variável adicional complicada para a economia brasileira”, avalia.
Segundo ele, a CPI coloca os investidores e empresas em status de espera. “Esse impacto político acaba postergando uma série de empresas no país porque elas querem ver o que vai acontecer”, diz.
Como isso impacta o seu bolso?
A instabilidade no mercado, já tida como normal nos tempos atuais, traz consequências diretas ou indiretas para o consumidor. Com um cenário incerto, investidores e empresas se sentem menos inclinados a apostar no país, o que significa menos recursos e menos empregos.
“Isso aparece na falta de liquidez na economia, na falta de empregos e na falta de maior robustez financeira do país. O país fica com menos recursos, tem um custo do dinheiro muito mais caro. Já somos um país muito pobre, dependemos de investimento estrangeiro para se desenvolver. Sem investimento externo, a gente tem uma diminuição dos níveis de emprego”, coloca Márcio.
A última pesquisa sobre desemprego divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de abril mostrou recorde no número de desempregados — são 14,4 milhões em todo o país, o maior número da série histórica iniciada em 2012.
Segundo Hugo, a responsabilização do presidente da república pela crise sanitária traria ainda mais insegurança para as empresas, o que pode levar multinacionais a evitar o país na escolha de novas sedes ou mesmo desistir dele.
“Está em jogo a Bolsa de Valores, a taxa do dólar, do euro, tudo aquilo que abrange o contexto mercadológico no Brasil”, julga.
O que vem pela frente
A própria formação da CPI traz perspectivas ruins para o governo, pendendo para um resultado que julgue-o culpado. Dos 11 senadores que compõem a investigação, apenas 4 são da base governista. O próprio relator da CPI, Renan Calheiros, é crítico ao governo.
Grande parte dos personagens mais esperados já foram interrogados pela CPI da Covid. Para a próxima semana, serão entrevistados a secretária do ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, e o presidente da farmacêutica União Química, Fernando de Castro Marques.
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