“O Brasil está quebrado, eu não consigo fazer nada”, disse o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em conversa com apoiadores na manhã desta terça-feira, 5, o primeiro dia de trabalho após 8 dias de férias.
A transmissão ao vivo do vídeo ocorreu por um canal de youtube bolsonarista e circulou as redes sociais.
Além da fala polêmica, o presidente ainda emendou dizendo que “ainda teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos“. Vale lembrar que o Brasil está prestes a atingir 200 mil mortes em decorrência da Covid-19.
Logo após, continuou atacando a imprensa, de maneira genérica e sem embasar as afirmações. “Essa mídia sem caráter, um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia”, teorizou o presidente.
Nos últimos dias, Bolsonaro passou o recesso em Guarujá, no litoral de São Paulo, e foi flagrado em aglomerações com apoiadores em praias, enquanto não usava máscaras.
Brasil está quebrado?
Apesar de não detalhar a declaração, a afirmação de que o Brasil está quebrado vai ao encontro dos dados divulgados também pelo Ministério da Cidadania nesta semana, que mostrou que o Brasil atingiu o maior número de famílias em situação de miséria desde 2014, superando a casa dos 14 milhões.
Nesse sentido, a projeção da queda do PIB brasileiro para 2020 também não vai bem; de acordo com a estimativa do Banco Mundial, a produção do país deve cair 4,5% durante o ano. A expectativa média para o produto mundial é de queda de 4,3%.
Por outro lado, a declaração de Bolsonaro contradiz diversos discursos de integrantes do Ministério da Economia – inclusive do chefe da pasta, Paulo Guedes. Em contraste com o presidente, técnicos da área vêm repetindo que a atividade econômica do país está em recuperação.
Há alguns meses o Ministério da Economia vem afirmando a tese da recuperação em V – ou seja, após uma queda brusca, uma recuperação rápida. Por isso, Guedes também defende que o país tem condição de reduzir os subsídios e manter o respeito ao teto de gastos.
Além disso, Guedes vem prometendo que conseguirá destravar as reformas no Congresso e fazer com que o país volte a gerar empregos.
Eleições no Congresso
Diante desse cenário, as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, que acontecem em fevereiro, seguem sendo uma das prioridades centrais para Bolsonaro.
Isso porque são os chefes do Congresso que decidem as pautas que vão à votação. Esse, por sua vez, é o motivo que Bolsonaro atribuí a “não conseguir fazer nada” – ainda que o Executivo tenha enviado poucas propostas para o Legislativo.
Na tarde da última segunda-feira, 4, o PT, partido que tem a maior bancada da Câmara dos Deputados, declarou apoio ao candidato Baleia Rossi (MDB/SP), aliado do atual presidente Rodrigo Maia (DEM/RJ) e opositor de Bolsonaro.
Por conseguinte, o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP/AL), está enfraquecido, pelo menos momentaneamente.
Como consequência disso, de acordo com o jornal Folha de São Paulo, a reforma ministerial prevista para o início deste ano foi interrompida. Isso porque o presidente estava negociando cargos com o Centrão e agora esperará a movimentação de votos em favor de Rossi. O receio é que partidos que estão com o presidente mudem de lado e isso mude o cenário de distribuição de cargos articulados até agora.
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