Acredite se quiser, os derivativos existem há milhares de anos, mesmo antes da existência de mercados financeiros como conhecemos hoje.
Segundo historiadores, há cerca de 300 anos a.C, comerciantes e produtores já estabeleciam contratos futuros para se protegerem de quedas ou aumentos repentinos de preços, pressionados pela demanda de determinados produtos.
Ao longo da história, os mercados evoluíram, o processo se sofisticou, e hoje os contratos são negociados tanto na bolsa de valores quanto no mercado de balcão, mas o princípio é o mesmo que norteava os acordos comerciais desde os primórdios.
O que são derivativos financeiros?
Derivativo, como o próprio termo já deixa subentendido, é um produto que deriva de outro subjacente. Sendo um produto financeiro, o derivativo deriva de ações, títulos, moedas, índices ou até mesmo commodities, tendo o seu preço definido pelo preço do ativo no qual está baseado.
Dependendo da forma como se comporta o preço do ativo que originou o derivativo, pode haver perdas ou ganhos expressivos para o investidor que esteja operando nesta modalidade de investimento.
Tipos de derivativos
Inúmeros produtos financeiros podem ter derivativos, e suas características, apesar de semelhantes no racional da operação, se diferenciam com base nas características do ativo principal do qual derivam.
1. Mercado de opções
Opções são derivativos de ações e podem ser tanto opções de venda como opções de compra. Isso significa garantir o direito de comprar ou vender o ativo subjacente àquela opção em um tempo e preço predeterminados.
O direito garantido pela opção significa um direito, porém, não uma obrigação de comprar ou vender o ativo no futuro. O titular pode optar por deixar a opção vencer e não fazer nada. Neste caso, ele apenas perderá o valor que pagou pela opção adquirida.
No caso do lançador da opção (aquele que vendeu o direito), é diferente: este tem a obrigação de efetivar a compra ou venda pelo preço acordado, caso o titular deseje exercer seu direito.
2. Contratos futuros
Contratos futuros são negociados exclusivamente na bolsa de valores e sua negociação estabelece uma obrigação entre as partes, ou seja, após negociar compra ou venda de um contrato futuro, não existe a opção de se retirar do negócio.
A única alternativa, caso você seja um comprador e não pretenda levar a operação até o seu vencimento, é revender o contrato, ou, na linguagem usual de mercado, fechar posição.
Os contratos futuros possibilitam que você aposte na evolução de preços de uma ampla gama de ativos, incluindo commodities como petróleo, milho, soja, trigo, café, além de metais como ouro e prata e ainda ações ou índices.
Neste tipo de operação, há ajustes diários de acordo com a expectativa de mercado para os valores dos ativos objeto de cada contrato. Dessa forma, o preço do contrato serve como referência, mas sofre ajustes para cima ou para baixo de acordo com a média diária de negociações no mercado futuro.
3. Contratos a termo
O contrato a termo é um compromisso entre comprador e vendedor com data pré definida para liquidação. Por este tipo de contrato, o investidor fica obrigado a adquirir determinado ativo pelo preço acordado no ato do contrato, quando este chegar a sua data de liquidação.
Da mesma forma, a contraparte fica obrigada a efetivar a venda que é objeto do contrato estabelecido. Nas operações a termo feitas em bolsa de valores, os ativos negociados são as ações, mas, no mercado balcão, pode ser qualquer tipo de produto em que haja duas partes dispostas a realizar a transação.
Em qualquer um dos casos, o contrato a termo é uma operação de compra e venda pré-datada. A parte que está comprando, está apostando na valorização do ativo e a parte que está vendendo, ao contrário, acredita na desvalorização.
Na bolsa de valores, os contratos a termo mais comuns têm prazos de até 30 dias, mas são permitidos contratos de até 999 dias.
A negociação de contrato a termo é feita via home broker ou através da mesa de renda variável, conforme a corretora.
O contrato a termo é uma operação que requer conhecimento e acompanhamento de mercado, pois você não consegue desfazer um contrato a termo, ele sempre irá até o seu vencimento.
A possibilidade, caso você deseje sair da operação antes do vencimento, é negociar um outro contrato a termo no mercado, onde, indiretamente, você estará vendendo os ativos que assumiu o compromisso de comprar, contudo, é bastante complexo conseguir liquidez para uma operação como esta.
4. Contratos de swap
Os contratos de swap nada mais são do que permutas entre duas partes que combinam trocar fluxos de caixa, como taxas de juros, durante um período de tempo pré-estabelecido.
Nesta operação, uma das partes está apostando no aumento de preços e a contraparte está apostando na queda do preço do ativo subjacente.
Pareceu confuso? Calma, pois vou te dar um exemplo simples:
Suponha que você pretenda fazer um intercâmbio no exterior daqui a um ano e, para isso, você tem um determinado valor investido em um CDB que paga 13% ao ano.
Ou seja, você investe um valor em reais, que é remunerado em reais, mas que será usado para despesas em dólares e, obviamente, você está preocupado em garantir que, no momento do seu intercâmbio, o seu dinheiro investido ainda tenha o mesmo poder de compra, em dólar, que tem hoje.
Porém, você não tem como prever se a variação cambial será favorável aos seus planos. Se o dólar subir, seu poder de compra em dólar cairá, pondo em risco o custeio de seu intercâmbio.
Neste caso, você pode se proteger adquirindo um contrato de swap, que lhe garanta o pagamento da variação do dólar em relação ao seu investimento no CDB. Ou seja, o CDB remunera o seu dinheiro em 13% ao ano, se nesse período do seu contrato de swap o dólar se valorizar 18% frente ao real, o contrato que você adquiriu irá lhe pagar a diferença. O nome desta transação é ajuste positivo.
Se o dólar se desvalorizar e sua variação ficar abaixo do percentual pago pelo seu investimento no CDB, irá ocorrer um débito em sua conta relativo a esta diferença, afinal, ao contratar o swap, você trocou de indexador: o CDB tem como indexador o DI e você o substitiu pelo dólar, portanto, num cenário de queda do dólar, ocorre o ajuste negativo.
Neste caso, apesar do ajuste, o poder de compra em dólar se manteve preservado.
Com isso, você certamente já entendeu que o swap nada mais é do que um seguro, uma proteção que pode ser adquirida para preservação de patrimônio dentro de cenários específicos em que tal proteção faça sentido.
Eu usei o exemplo do intercâmbio, que é um gasto mais próximo da realidade do investidor pessoa física, mas, na verdade, o contrato de swap pode ser feito para os mais variados objetivos, cujo desembolso previsto seja em moeda estrangeira. Dessa forma, o ativo é o investimento em real e o derivativo é o swap.
Para que servem os derivativos?
Investir em derivativos, de forma simplificada, significa apostar numa tendência para determinado ativo, visando lucrar com o mesmo, e você pode estar certo ou errado em sua aposta.
Por isso, é importante algum conhecimento prévio de mercado financeiro e análise de tendências, já que cada tipo de derivativo possui diferentes níveis de risco e objetivos bem específicos. Sendo assim, você pode ganhar muito dinheiro com eles, mas também pode perder todo o dinheiro alocado na estratégia.
Proteção (hedge)
Hedge é uma estratégia de operação financeira que protege dos riscos de mercado de investimentos ou negócios que estejam sujeitos às oscilações de preços de determinados ativos ou mesmo à variação cambial.
Empresas que têm dívidas em moedas estrangeiras, por exemplo, usam bastante esse tipo de proteção quanto à variação das moedas.
Fazer hedge significa assumir uma posição comprada ou vendida em determinado derivativo e, dessa forma, reduzir a exposição dos investimentos à volatilidade daquele ativo ao qual o derivativo está indexado.
Na estratégia de hedge, o objetivo não é obter lucro, e sim, garantir o preço de compra ou venda do ativo numa data futura pré-definida.
Toda operação de hedge tem um custo e um prazo de vencimento previamente definidos, sendo assim, não são todas as operações em bolsa que compensam o custo de se fazer uma proteção.
É muito importante entender que hedge não é um investimento. Sua finalidade é resguardar um determinado montante de investimentos preservado em cenários que sejam muito incertos.
Dessa forma, se você pretende fazer hedge, é aconselhável que busque acompanhar um pouco de macroeconomia e também aprimorar seus conhecimentos de mercado, de forma a saber quando é ou não viável realizar uma proteção em sua carteira ou em parte dela.
Especulação
O principal objetivo do investidor que adota uma estratégia de especulação é realizar lucro no curto prazo.
Através da especulação, você pode investir em uma ação ou commodity sem possuir o respectivo bem. É possível alavancar o investimento, potencializando exponencialmente os ganhos, entretanto, expondo-se ao risco de perda total do investimento.
Normalmente são operações de um único dia – day trade – ou, no máximo, de alguns dias.
Pode-se dizer que o especulador é o agente que está na outra ponta de uma estratégia de hedge, pois, enquanto o investidor que faz hedge está, por exemplo, buscando proteção contra a alta de um ativo, o especulador que deu lastro à esta operação de hedge está justamente apostando na baixa do referido ativo e vice-versa.
Tal qual o hedge, a especulação é uma estratégia de alto risco que requer bom acompanhamento de mercado.
Arbitragem
A arbitragem também é um modelo de operação para o investidor que acompanha de perto o mercado e, sobretudo, tem boa visão analítica, pois quem faz arbitragem, via de regra, deseja lucrar com as movimentações de mercado, através de transações entre mercado à vista e mercado futuro.
É uma estratégia para turbinar os ganhos, porém com alta dose de riscos, pois as oportunidades de ganho estão nas disparidades de preços dos ativos. O lucro ocorre quando o investidor consegue comprar um ativo ou seu derivativo na cotação mais baixa e vendê-lo no mercado que esteja projetando um preço futuro maior.
Na arbitragem as operações são curtas e o ganho significativo ocorre com o volume de negócios realizados e não tanto no valor nominal obtido com cada operação.
Como investir no mercado de derivativos financeiros?
Para investir no mercado de derivativos é necessário que você possua conta em uma corretora de valores.
Ao escolher a corretora, leve em conta as taxas cobradas para este tipo de operação, pois conforme os valores que você pretenda operar, as taxas podem impactar seus ganhos de forma significativa.
Além das taxas praticadas pela corretora, convém que você avalie a plataforma, pois nesse tipo de operações, você precisa contar com um serviço que seja estável, rápido, com boa usabilidade e, preferencialmente, numa corretora que disponibilize vasto material de análise de mercado que subsidie suas decisões.
Depois de avaliar todos esses aspectos e finalmente escolher a corretora na qual irá operar, informe-se sobre as regras específicas para derivativos, como valores em garantia, margem para operações, etc.
Normalmente você encontra todas essas informações dentro de sua área logada, mas, se ficar com alguma dúvida, recomendo fortemente que você converse com a assessoria e esclareça todos os aspectos antes de fazer sua primeira operação.
Quais os riscos e como se proteger?
Os riscos na operação de derivativos são maiores do que nas operações convencionais de renda variável. Este tipo de estratégia, ao mesmo tempo que promove a proteção, deixa o investimento sujeito a alta volatilidade, podendo incorrer em prejuízos relevantes, especialmente se você operar alavancagem.
Se você deseja investir em derivativos, é importante começar por uma avaliação de perfil de risco. Trata-se de um mercado onde oscilações e prejuízos são muito comuns, portanto, entender o quanto está preparado para lidar com volatilidade e eventuais perdas é fundamental.
Além disso, operar derivativos demanda que você tenha algum tempo livre para fazer acompanhamento de mercado de forma mais constante, tanto para estudar e estruturar suas estratégias, quanto para monitorar a movimentação de mercado e, sempre que necessário, tomar medidas de ajuste dos planos traçados.
Para aplicar em derivativos, não basta apenas saber montar uma operação, é preciso também entender o timing de mercado para, eventualmente, até mesmo desmontá-la antes do previsto, caso isso se mostre inevitável.
Conclusão
Investir em derivativos é uma estratégia arrojada e recomendada para quem já tem alguma experiência em mercado financeiro, e possibilitam ao investidor se proteger contra variações nos preços de ações, commodities e moedas.
Entretanto, vale ressaltar que, dadas as características de maior risco envolvido nas operações, os valores destinados a derivativos devem ser um percentual confortável dentro de sua alocação.
A estratégia possibilita altos ganhos e proteção, contudo, antes de iniciar aplicações neste mercado, convém estudar minuciosamente as estratégias e avaliar se elas realmente fazem sentido e são necessárias para os planos que você tem para o seu dinheiro.
O derivativo é uma espécie de seguro que o investidor utiliza para reduzir sua exposição à volatilidade e, como qualquer seguro, ele tem custos. No caso específico desta modalidade de seguro, além dos custos há também os riscos, afinal, nem sempre o mercado irá se movimentar exatamente de acordo com a sua análise, podendo uma reversão de tendência anular completamente sua estratégia.
Sendo assim, antes de mais nada, você deve analisar se a volatilidade é realmente um fator de vulnerabilidade em sua carteira de acordo com os prazos e metas que possua para os valores investidos. Se, após esta análise, os derivativos se mostrarem como a estratégia ideal, priorize estudar em detalhes suas operações e planejar seu dia a dia, prevendo um tempo livre para acompanhar o mercado e, assim, otimizar essa importante ferramenta em seu favor.