Curva de juros: como funciona e como impacta os investimentos?

A curva de juros futuros determina o retorno esperado dos títulos de renda fixa e também impacta na renda variável. Entenda seus tipos!

Escrito por Melissa Nunes

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Se você acompanha o mercado financeiro, certamente já deve ter ouvido falar na expressão ‘curva de juros‘, quando avalia as opções de investimentos em renda fixa.

À primeira vista, esse conceito parece um tanto complicado. Mas você verá que, na prática, é bem simples de entender e bastante interessante. Aliás, conhecer o funcionamento e as variações das curvas de juros será decisivo para você tomar as melhores decisões e ir em busca dos melhores ganhos para sua carteira de uma forma estratégica.

Nesta leitura, você vai entender o que é curva de juros, como ela é formada, qual seu reflexo nos investimentos, como interpretá-la, tipos e formatos, quais fatores impactam no seu comportamento e muito mais.

O que é a curva de juros e para que serve?

Também chamada de Yield Curve, ou Curva a Termo, a Curva de Juros é uma representação visual muito acompanhada pelos investidores. Ela demonstra a evolução dos retornos dos títulos públicos de renda fixa prefixados sem cupom (ou seja, sem pagamentos semestrais), a partir dos contratos futuros de juros (ou DI). Tudo isso ao longo do tempo.

A Anbima é a instituição que divulga os valores diários da curva de juros, que você pode conferir clicando neste link.

Aqui, é levado em conta as taxas de títulos públicos prefixados (LTN e NTN-F, ou Tesouro Prefixado) e títulos indexados pela inflação (NTN-B ou Tesouro IPCA+) que as instituições financeiras negociam todos os dias entre si no mercado secundário.

Resumidamente, ela estipula o caminho futuro da taxa de juros em um período específico. Assim, fica mais fácil mensurar os riscos e as vantagens envolvidas em cada aplicação financeira.

Ficou complicado? Confira no exemplo abaixo que vai ficar bem fácil de entender.

Como é formada a curva de juros?

A curva de juros é formada por dois eixos:

  • no plano horizontal, temos o tempo futuro;
  • no plano vertical, as taxas.

Conforme as taxas de juros entregues aos títulos públicos de renda fixa vão se modificando, você pode ir ligando os pontos e percebendo, de maneira visual, como elas estão se comportando. Se as taxas estão aumentando, a linha tende a ir subindo. Caso as taxas comecem a baixar, você vai perceber o movimento descendente da mesma linha.

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Fonte: Bloomberg. Elaboração: XP.

Como a curva de juros impacta nos investimentos?

Antes de entendermos como a curva de juros impacta nos investimentos, vamos esclarecer um primeiro ponto: por que essa tal curva é criada com base nos títulos públicos?

Essa modalidade de investimento é emitida pelo governo, então, é considerada a mais segura de mercado. Por uma razão simples: ao contrário de uma empresa, que pode quebrar, um país tem a prerrogativa de sempre poder imprimir dinheiro para honrar os compromissos com os seus credores.

É lógico que essa medida vai ter impactos econômicos para o governo ali na frente, mas essa é uma segunda questão. Você, que investiu, terá o seu pagamento garantido.

Sendo assim, os retornos dos títulos públicos acabam tidos como os ativos livres de risco no mercado e servem de benchmark, ou seja, são balizadores para a precificação de muitas outras opções de investimento. Nesse caso, principalmente os de renda fixa, além de empréstimos bancários, hipotecas, dívidas corporativas e bônus internacionais.

A taxa livre de risco no Brasil é a Selic. Se um investidor tem um retorno garantido de 10% a.a. em um título do Tesouro, por exemplo, o mínimo que ele espera de outro investimento similar e com o mesmo vencimento é que essa taxa seja acrescida de um “prêmio” adequado.

Em outras palavras, ele precisa de um valor a mais por estar correndo mais risco em troca de uma possibilidade maior de lucros.

Reflexos em outros mercados

Títulos de renda fixa – sejam os públicos ou os privados – são marcados a mercado diariamente. Ou seja, seus preços sofrem ajustes diários de acordo com as expectativas do mercado (inclusive a curva de juros).

Assim, a variação na curva de juros afeta não só os títulos em si, como também fundos de investimentos em renda fixa que possuem posições nessas modalidades.

Além disso, a variação nos juros de longo prazo também influencia nos investimentos de renda variável. Isso acontece por dois grandes motivos:

Primeiro, a taxa de juros (ou desconto) é uma das variáveis mais importantes da precificação das ações das empresas, via fluxo de caixa descontado, por exemplo. Além de os resultados reais das empresas serem impactados, há significativas mudanças nesse valuation, fazendo com que a cotação dos papéis suba ou desça.

Fora isso, os juros também irão mexer diretamente com as expectativas do mercado. Juros altos tendem a fazer com que mais capital saia da bolsa de valores, por exemplo, com os investidores indo buscar maiores ganhos na renda fixa, expondo-se a riscos menores. Com juros em baixa e economia pujante, cresce o potencial de lucros das companhias e o interesse dos investidores.

Como interpretar a curva de juros?

Vejamos, novamente, o desenho da curva que trouxemos anteriormente:

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Fonte: Bloomberg. Elaboração: XP.

Você pode perceber que as taxas de juros esperadas para daqui 1 ano giram em torno de 8,5% a.a. Já para 2 anos, esse número fica um pouco acima dos 9% a.a. Depois, a curva se estabiliza e sobe menos acelerada, estando pouco abaixo de 10% a.a. nos títulos para 5 anos. E assim por diante.

É dessa maneira que você pode fazer a interpretação de como está a evolução das taxas de juros ao longo do tempo.

E, além dos números propriamente ditos, uma outra boa maneira de fazer essa avaliação é de uma forma bem visual, logo que você bate o olho. Acontece que, de acordo com o movimento que a curva de juros faz, ela assume um formato, que pode ter uma nomenclatura. Abaixo, separamos alguns dos principais.

Tipos e formatos de curva de juros

As imagens abaixo explicitam os possíveis formatos da curva de juros, ou seja: as taxas de retorno em um crescente temporal de vencimentos:

  • Normal: mostra uma curva de retornos com inclinação ascendente. Ou seja, o retorno cresce constantemente à medida em que o vencimento aumenta. Este formato é usualmente denominado curva de retornos normal ou positiva.
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Curva normal.
  • Invertida: mostra uma curva de retornos inclinada para baixo, ou invertida, em que as taxas declinam no decorrer do tempo.
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Curva invertida.
  • Arqueada: mostra uma curva onde as taxas realizam um movimento ascendente, depois tornam a descer, antes começar a se consolidar em uma variação mais constante.
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Curva arqueada.
  • Plana: mostra uma curva de retornos plana (flat), ou seja, as taxas de juros se mantêm inalteradas com o passar do tempo.
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Curva plana ou flat.

Quais fatores modificam a curva de juros?

Quando falamos em curva de juros, podemos destacar as duas variantes que mais impactam nesse indicador: o tempo e as políticas monetárias.

Tempo

Sabemos que juros representam a evolução do valor do dinheiro no tempo. Sendo assim, geralmente, quanto maior for o prazo de vencimento de um título, maior será a correção.

Isso também acaba sendo duplamente validado pela equação do risco x retorno. Quanto mais tempo eu tiver de esperar para ter o meu dinheiro aplicado de volta com os juros, mais risco eu corro, já que ficarei mais tempo exposto aos riscos do mercado. Sendo assim, naturalmente, irei exigir um prêmio, ou seja, um retorno maior pelo seu investimento.

A lógica contrária também é verdadeira. Títulos de investimentos com prazo mais curto tendem a ter uma taxa de juros menor.

E pense no caso de um banco que empresta dinheiro. Ele pensa exatamente da mesma forma: quanto maior for o prazo de pagamento, mais inseguro ele se sentirá em relação a uma possível inadimplência desse cliente. Logo, as taxas de juros serão maiores, e vice-versa.

Mas nem tudo é tão “preto no branco”. Claro que existem questões de mercado e há ainda outras situações que pode alterar essas premissas, conforme você verá abaixo.

Políticas monetárias

A principal política monetária do Brasil é quando o Banco Central mexe, justamente, na Meta Selic, a taxa básica de juros do país. Seu objetivo número um é aquecer ou desaquecer a economia e controlar a inflação.

Logo, a depender do cenário em que estamos vivendo, o nosso comitê de política monetária pode lançar mão dessas medidas e isso irá impactar na curva de juros futura.

Se temos determinado valor de juros anuais e essa taxa começa a entrar em um ciclo de rebaixamentos, a nossa curva de juros pode começar a demonstrar o aspecto invertido. Ou começar a se transformar de uma linha ascendente para uma arqueada.

Isso tudo deve impactar nas decisões que você, enquanto investidor, vai tomar daqui pra frente.

Curvas abrindo ou curvas fechando…

Falamos que há “abertura” ou o “fechamento” da curva quando as perspectivas para os juros no futuro mudam. Se você pegar o desenho do gráfico, é visualmente bem fácil de identificar:

  • quando há projeções de que a taxa de juros aumente no futuro, há uma abertura da curva;
  • quando há estimativas de que ela diminua, há o fechamento da curva.

Isso nos leva a outros quatro tipos de movimentos bastantes interessante de monitorar, que é comparar a inclinação da curva de juros entre diferentes prazos.

Quando a diferença entre as taxas de curto prazo aumenta em relação às taxas de longo prazo, há um ganho de inclinação, o que é chamado de steepening, que vem de empinar. Quando há perda de inclinação dessas curvas, falamos que há um flattening, que vem de achatar.

O mercado também faz referência ao bull market e bear market, usando as expressões bull para aceleração e bear para desaceleração.

Confira nos desenhos abaixo:

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Imagem: XP.

Quando a alta dos juros longos é maior do que a dos juros curtos, a curva faz um movimento de bear steepening. Quando as taxas curtas caem mais que as taxas longas, há um bull steepening.

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Imagem: XP.

Quando as taxas curtas sobem mais que as longas, há um bear flattening. Quando as taxas longas retraem mais do que as curtas, há um bull flattening.

Como investidor, vale a pena aprender sobre a curva de juros?

Sim! É muito interessante, para quem está ligado nas políticas monetárias e quer fazer a busca pelas melhores opções de títulos de renda fixa, saber como interpretar a curva de juros e as possibilidades que o cenário pode nos apresentar com a passagem do tempo.

Para você ter uma ideia, nessa mesma temática, há um cálculo para descobrir as relações entre taxas spot e taxas a termo. Sabe o que isso significa?

Digamos que eu tenha duas opções de investimento em um título de renda fixa:

  1. um com vencimento em 2 anos, que me paga 12% a.a.;
  2. outro, de igual qualidade, mas que paga 10% a.a. e tem o vencimento de 1 ano.

Imagine que estou prevendo um aumento nas taxas de juros e pretendo investir por dois anos. O que eu quero saber é: o que vai valer mais a pena? Investir no título de 2 anos a 12% a.a. ou durante 1 ano no título de 10% a.a., e, depois, reaplicar no mesmo título que, segundo minhas projeções, irá oferecer retornos melhores?

Título com vencimento em 2 anos:Ano 1: 12% a.a.
Ano 2: 12% a.a.
Título com vencimento em 1 ano:Ano 1: 10% a.a.
Ano 2: ???

O que a fórmula Spot -> Termo irá entregar é o que está marcado com (?), ou seja: qual a taxa mínima esperada para que essa segunda opção valha a pena.

Para isso, usa-se a fórmula:

(1 + Taxa do período maior) ^ tempo / (1 + Taxa do período menor) ^ tempo) – 1 x 100

Isso resultaria em 14,03% no período entre 1 e 2 anos. Ou seja, se minhas projeções se concretizarem, vale mais a pena escolher o segundo título.

Concluindo

De qualquer forma, a ideia aqui não é fazer cálculos. Depois, você até poderá se aperfeiçoar nessas contas. Mas, com esse exemplo, você pode ter uma ideia do quão importante pode ser para o investidor conhecer esses conceitos envolvendo curvas de juros para projetar ganhos futuros.

Tendo bem claro qual é seu perfil e objetivos enquanto investidor, você poderá tomar as melhores decisões acerca de questões como:

  • quanto tenho para investir?
  • em quanto tempo gostaria de ver meu dinheiro, acrescido de juros, retornar?
  • qual a taxa mínima de retorno que eu espero receber?
  • quais as melhores opções, levando em conta títulos de prazos e/ou taxas semelhantes, que tenho disponíveis no mercado?

Dessa forma, você se torna um investidor mais consciente e pode tirar o melhor proveito da sua carteira de investimentos, muitas vezes sem precisar esperar que alguém lhe diga onde colocar seu dinheiro.


Calculadora de Investimentos – iDinheiro


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Perguntas frequentes

  1. Onde encontrar a curva de juros?

    Para acompanhar a curva de juros, você pode acessar o site da Anbima, que é quem mantém o cálculo atualizado diariamente. Basta inserir a data e você poderá conferir tanto os dados quanto o visual da linha. Aproveite para identificar qual dos tipos que nós comentamos nesse texto é a que está acontecendo no momento.

  2. O que é “abrindo a curva” ou “fechando a curva”?

    Falamos que há “abertura” ou o “fechamento” da curva quando as perspectivas para os juros no futuro mudam. Se você pegar o desenho do gráfico, é visualmente fácil de identificar. Quando há projeções de que a taxa de juros aumente no futuro, há uma abertura da curva. Quando há estimativas de que ela diminua, há o fechamento da curva.

  3. O que é inversão da curva de juros?

    Geralmente, falamos que há uma “inversão da curva de juros” quando mudam as políticas monetárias, seja de contracionista para expansionista ou vice-versa. A economia é cíclica e todo o ciclo de alta, assim como o de baixa, tem de ter um fim. Quando essa curva chega em um topo e começa a descer, ou quando ela chega num fundo e começa a subir, chamamos de inversão.

Referências do artigo
  • Anbima. “Curvas de Juros – Fechamento”. Link.

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