No cenário de juros altos, o investidor muda de opinião facilmente. Entenda os motivos pelos quais a bolsa está provocando dúvidas nas pessoas sobre investir e saiba como agir nesse momento!
Como a Selic chegou nesse patamar
Os últimos 2 anos foram caóticos em todos os sentidos. A economia passou por sérias mudanças tanto da oferta quanto da demanda, provocando também alterações nos hábitos de consumo mediante o aumento da inflação.
A inflação tem sido um fator determinante para o governo, uma vez que impacta não só quem consome, mas também quem investe.
Nos últimos 12 meses, convivemos com uma inflação avassaladora. Mais de 10% de alta e bem acima do teto estipulado pelo Banco Central (5%), trazendo uma nova perspectiva sobre os juros básicos da economia.
Entender a dinâmica de inflação e juros é simples: o governo utiliza o aumento ou diminuição de juros como uma forma de frear ou estimular a economia, respectivamente. Pense em uma “mola” que comprime e expande de acordo com um estímulo feito sobre ela. O governo utiliza os juros como se fosse esse estímulo e, quando a inflação sobe, precisa subir a taxa para que as pessoas consumam menos, tenham menos acesso ao crédito, uma vez que este fica mais caro e guardem mais dinheiro até que o nível de preços caia para um patamar aceitável.
Se a inflação estiver em um patamar aquém do que o governo acredita ser saudável, como aconteceu em 2019, este irá diminuir os juros como uma forma de incentivo ao consumo, financiamento e crédito. Um indicador simples é relativo ao setor imobiliário, que é impactado positivamente com a queda dos juros e negativamente com a sua alta.
O impacto dos juros altos na bolsa de valores
Onde a bolsa entra nessa discussão? Se os juros sobem, as pessoas tendem a buscar alternativas mais conservadoras, o que traz dúvidas se faz sentido ou não aportar recursos nela. Vivemos em um país totalmente “rentista”, ou seja, focado em juros altos e renda fixa, o que diminui mais ainda a atratividade desta classe de ativos. Para piorar, ainda tem aquele familiar que tem aversão a bolsa de valores de jeito nenhum pois perdeu muito dinheiro com a Petrobras e, assim, acredita que bolsa não vale a pena.
Entretanto, vou te dizer que vale a pena, sim, investir em bolsa com a Selic alta.
Entendendo o raciocínio por trás do mercado hoje
O principal ponto é a diversificação. A partir deste conceito, você vai entender o porquê faz sentido ter exposição em bolsa. Vamos lá:
1) Nossa mente tende a concentrar estratégias em momentos de estresse. Isso pode ser prejudicial, pois podemos perder oportunidades de investir em boas empresas a preços descontados por uma questão de ir somente para uma direção. Em um cenário como esse, você deve pensar nos seus investimentos como CLASSES primeiro, e, depois, como ATIVOS.
Pensar em classes significa: qual a porcentagem de renda variável eu possuo hoje na minha carteira? E renda fixa? E internacional? Proteções? A partir deste racional, você define os pesos para cada categoria, limitando e gerenciando o seu risco. Em seguida, você começa a definir quais são os ativos, setores e empresas. Especialistas chamam essa estratégia de “top down”, ou seja, de cima para baixo.
Este modo de operar te ajuda a ter um norte, uma política de investimentos e garantir que o seu risco esteja controlado.
2) Mesmo que o CDI tenha apresentado retornos melhores nos últimos anos em relação à bolsa e inflação, não necessariamente significa que este movimento continuará. Além disso, pode ser que você não consiga atingir a renda passiva na aposentadoria que gostaria investindo somente em renda fixa. Já parou para fazer o cálculo?
Tenha uma filosofia de investimentos baseada em objetivos. Fracione sua estratégia em “gavetas” de curto, médio e longo prazo. O perfil de cada investimento vai se adequando ao horizonte de tempo, auxiliando, também, a fazer uma gestão de risco mais criteriosa.
3) Utilize a reserva de oportunidades a seu favor. A reserva de oportunidades, como o próprio nome diz, é aquele montante que você deixa parado em caixa ou em aplicações de renda fixa conservadoras para aproveitar momentos de queda no mercado.
Deixar o dinheiro 100% do tempo no CDI tem um “custo invisível”. Hoje, com os juros altos, esse custo é menor, pois a renda fixa está pagando mais, mas, há 2 anos, esse custo era alto, uma vez que os juros estavam em níveis baixos.
Deixar uma parte considerável do recurso na reserva de oportunidades te limita a investir em produtos melhores e mais diversificados. Coloque um percentual pequeno e faça aportes de forma gradual. A reserva de oportunidades também deve ser pensada como classe, sendo destinado um percentual para investir.
4) Se você tiver 1% a mais de retorno por ano, considerando uma perspectiva conservadora, isso pode trazer até 40% a mais de rentabilidade na sua aposentadoria. Você consegue isso com a diversificação. Portanto, tenha um processo claro de gestão do seu dinheiro, com revisões periódicas, investimentos em novas estratégias, etc. O que fazia sentido há 2 anos, pode não fazer hoje e vice-versa. Se você não tem paciência, tempo ou realmente não quer estudar sobre o assunto, procure um especialista independente, como um Consultor de Investimentos.
Observe que, nos quatro pontos acima, a bolsa está presente de forma direta ou indireta. Já ouviu a frase: bolsa é para sempre? Se não, anote no seu caderno. Sempre existirão momentos para investir em bolsa, seja por oportunidade, diversificação, objetivos de longo prazo ou mudanças de cenário. Seja você um investidor conservador, moderado ou arrojado, use a renda variável de forma estratégica!